segunda-feira, 21 de junho de 2010

Escorrendo entre os dedos

Pesquisadores no Pará comemoram a possível descoberta do maior aquífero mundo. Enquanto isto, Câmara abre investigação sobre tráfico de água na Amazônia. 
Adriano Belisário

Vista de cima, a Terra pode até ser o planeta azul. Mas, cá embaixo, de bem comum a água vem se tornando um produto e dos mais cobiçados. Após pesquisadores da Universidade Federal do Pará anunciarem em abril a descoberta do Aquífero Alter do Chão, supostamente o maior do mundo, a escassez de recursos hídricos parece estar longe de ser um problema no Brasil. Apenas parece.
Bem conhecido na região norte do país, o tráfico internacional de águas finalmente chegou aos ouvidos dos deputados em Brasília. Países como Arábia Saudita, Bélgica e Israel, entre muitos outros, já sofrem com a escassez hídrica. Diante da falta de água potável, é preciso optar entre a dessalinização e o tratamento da água doce. Como a primeira opção custa quase o dobro da segunda, a saída é usurpar os rios alheios, quando os próprios não são suficientes. Assim, as empresas também ficam isentas das taxações de uso das águas de superfície dos rios europeus.

“Estima-se que cada embarcação seja abastecida com 250 milhões de litros de água doce, para engarrafamento na Europa, Oriente Médio e Extremo Oriente, até para a China”, relatam os deputados Lupércio Ramos (PMDB-AM) e Francisco Praciano (PT-AM) no pedido de abertura de inquérito na Casa.

Após esvaziarem suas cargas, petroleiros e navios-tanques abasteceram suas reservas com o Rio Amazonas antes de deixarem as fronteiras nacionais. Alguns deles seriam capazes de armazenar o equivalente a metade da água necessária para abastecer Manaus por um dia inteiro, segundo a Agência Amazônia.

Pesquisadores suspeitam que, além da água, o interesse estrangeiro poderia também cobiçar os organismos vivos presentes no rio. O extravio da riqueza biológica do país é antigo. No início do século XIX, o botânico Auguste de Saint-Hilaire enviou para as colônias francesas 21 caixas com plantas de arredores do Rio de Janeiro.

Já em 1876, sobre as terras que cobrem o Aquífero Guarani, o inglês Henry Wickham desviou sementes de seringueiras amazônicas para as colônias britânicas na Malásia. O efeito foi devastador na economia da região norte, que viu despencar a venda de borracha com a entrada do novo concorrente. Ainda pouco divulgado, o caso do tráfico de águas promete ser mais um capítulo desta extensa história da biopirataria no Brasil.
 
Fonte: Site da revista de história da biblioteca nacional

Um abraço ecológico a todos!
Pedro Vidal 

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